sábado, 1 de dezembro de 2012

A Morena que causa...


Não sei se por ser fã declarado de Gloria Perez, se por assistir devotamente SALVE JORGE, se por também escrever novelas... Mas alguma coisa faz de mim alvo das críticas sobre a novela das oito. Confesso que as recebo com bastante discernimento. Afinal, não é porque a novela é escrita por minha mestra que eu tenho que dizer "amém" a tudo! Mas tem coisas que não dá pra entender.

Quando eu escrevi WALQUIRIA, um dos pontos que atinei, foi amparado na filosofia foucaltiana de que "o homem vive a verdade do seu tempo" e fiz de tudo para matizar uma história onde pudesse ser contemporânea ao que vivo hoje. Isso é claro, de uma maneira sutil e delicada sem ferir a sinopse original que deu vida a minha cigana. Eu particularmente, acredito muito nessa proposta e faço escola nesse estilo de escrita.

A personagem MORENA de SALVE JORGE tem sido a bala da vez dos críticos e pseudos críticos como uma personagem "fom fom". Eu discordo! Acho que pela primeira vez (e em horário nobre) temos uma personagem emblemática e popular. Genuinamente brasileira. Qual o problema da protagonista ser uma moça de favela, de classe C? Por acaso essas pessoas não existem? Acham que é fruto da imaginação de Gloria Perez? Não gente! Como diria Nelson Rodrigues: É a vida como ela é...

Voltando a falar em WALQUIRIA, lembro-me de ter dito que as pessoas por acreditarem que vida e arte são sempre reflexos uma da outra, se é que há como pensar diferente, limitam-se ao previsível ou ao inesperado e nessa simbiose esqueceram-se de contar nossas histórias mais simples com um tempeiro caseiro. (página 132). É necessário e mais que isso, é um grande desafio resgatar essa memória brasileira que está confinada nas idéias preconceituosas que permeiam a maioria das criticas apontadas.

Achei uma ousadia e tanto Gloria Perez protagonizar sua trama com uma personagem da envergadura de MORENA, isso é inédito na história das novelas brasileiras, aliás trazer temas a frente do seu tempo lhe é uma caracteristica bem particular. Mas isso ninguém percebe! Isso ninguém elogia!

Respeito a rejeição da personagem por algumas pessoas que pensam, assim como gostei de ser respeitado quando não gostei de AVENIDA BRASIL e sai na contramão de todos. Mas não concordo! Acho que da composição da personagem à escolha da atriz está tudo pertinente. Vocês já imaginaram a Claudia Raia ou a Antonelle por exemplo fazendo a Morena?! Nem pensar! As nossas atrizes famosas e que convencionalmente protagonizam os folhetins de horário nobre já foram cristalizadas e rotuladas como personagens elitistas (mesmo que sofram na trama). É ai que está o segredo da Nanda Costa, ela era pouco conhecida e isso facilita a aceitação da personagem de favela  com uma personalidade forte.

Existe sim, uma critica e dentro da própria novela à sua personagem. É a Dona Aurea que a rejeita por se tratar de uma moça de favela. Talvez esse seja também o grande problema de quem não se deixou conquistar pela Nanda Costa e seu brilhante desempenho na pele da Morena. Aliás, essa é uma forma de preconceito ortodoxa e no entanto bastante atual em nosso meio. É o caso das pessoas que dizem não portar idéias preconceituosas e "tem até amigos gays", "tem até amigos de favela." Desde que fiquem lá né? bem longe!

A novela então, entre tantos temas polêmicos, traz um grande desafio: (con)viver com "seus amigos gays", "seus amigos de favela", "seus amigos presidiários"... Quem sabe daqui para o final da trama alguma coisa não muda na cabeça das pessoas?! voltando a WALQUIRIA e para finalizar: Sei que a novela, como outros gêneros textuais da ficção, existe para maravilhar e encantar os espectadores, leitores. Sei que a novela não resolve problema algum, por mais vanguardista que se apresente, ela não passa de ficção, mas aprendi com os melhores que contando nossas histórias, revestindo nossos personagens com aquilo que acreditamos, podemos jogar na mesa temas sérios e necessários às mais significativas discussões. (página 131)


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