sexta-feira, 31 de julho de 2015

Da Coluna de Lisboa Batista


Recebemos o carinho e a gentileza do colunista no jornal deste sábado. muito grato!
Aproveito para registrar também meus agradecimentos ao locutor Nonato Oliveira pela ampla divulgação do meu trabalho e seu programa.
Feliz demais!!!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Você gosta de sexo? Digo... Novela?


Quando surgiu a Televisão, nos anos 40, logo começaram a falar muito sobre seu poder de causar dependência e sua facilidade em manipular a opinião da grande massa. Ainda nos anos 60, estudos apontavam que a “chupeta eletrônica” era responsável por um processo de alienação pensante; o que ainda hoje, há quem defenda. Entretanto, não me recordo de nenhum eletrônico que, em nossa cultura, seja imune ao vício de seus usuários. Se observarmos, hoje o comportamento megalomaníaco das pessoas que dependem das redes sociais para sobreviver, rapidamente perceberemos que isto nada mais é que o reflexo dessa dependência que já se anunciava nos anos atrás.

Mas para não fugir da Televisão, talvez um aparelho eletrônico um tanto ortodoxo se comparado aos vícios modernos, vamos falar da programação. Estou assistindo pela enésima vez a novela Roque Santeiro – em DVD, é claro, porque hoje não mais reprisam coisas tão boas e, assistindo novamente, me vem em mente pautar a qualidade das novelas de hoje. Para começar, e talvez não consigamos sair disso: se não tiver sexo ninguém assiste. Na Rede Globo, evidentemente.

Vocês já se perguntaram por que os dramalhões mexicanos não exploram o corpo e a sensualidade em seus folhetins, ou simplesmente preferem não assistir porque cansa? Não há outra maneira de fazer TV, hoje, senão pelas amarras do Ibope. Tudo gira em torno da audiência e isso, de algum modo, compromete a criação do autor; afinal, ele precisa manufaturar na esteira rolante. Mas por que no México é tão diferente? Lá as pessoas não gostam de sexo?

Nelson Rodrigues ao nos escolarizar em mostrar sempre “a vida como ela é”, nos deixa também à margem de um perigo lanceado entre as verdades e o pudor. E a verdade da programação da TV brasileira, sobretudo das novelas é que não pudor. Se ela não vulgarizar, digo, modernizar, “sexualizar”, perderá audiência para a “net”. E se fugir essa regra, a novela torna-se até incompreensível para parte do público, foi isso o que mais assustou Silvio de Abreu ao receber o feedback de “As filhas da mãe”: não ser compreendido.


Pensando para este último parágrafo em como os telespectadores aprendem rápido as lições (bordões) das novelas, me pego também pensando se esse comportamento manufatureiro (para a emissora, é claro) já está sendo reproduzido vida afora... Será que eu “não sei” porque só assisto Televisão? Ou ainda porque encontro tempo para namorar, estudar e sentar pelas calçadas? O probleminha (bem inha) da Televisão HOJE, não é diferente do inha da Música. As pessoas buscam em seus cinco minutos de glória o sucesso. Apenas! Se a novela der audiência ou a música tocar no rádio, o que interessa se é de boa qualidade? O sucesso justifica qualquer porcaria e ninguém precisa de uma lógica para produzir o que já tem receita pronta. Somente percebam isso antes de saírem por aí reproduzindo discursos ocos de que novela mexicana é tudo uma coisa só.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Minha pátria é minha língua


Na Língua Portuguesa o emprego das letras e sinais não é uma tarefa fácil, uma vez que um mesmo som pode pode ser representado por mais de uma letra, do mesmo modo que uma letra pode representar mais de um som. Além disso, o nosso alfabeto não consegue representar todo o sistema sonoro do idioma, de modo que se fazem existir palavras cuja pronúncia se desarmoniza com a escrita. É o caso de "mesa" onde o S tem som de Z, "examinador" onde o X tem som também de Z, entre inúmeros casos que preencheram as nossas cartilhas do ABC primário (rr, ch, sh,...).

Quem opta pelo Curso de Letras não consegue fugir desse universo e cedo ou tarde acaba literalmente tomando uma sopa de letrinhas, ainda que se enverede pelo universo da Literatura - mundo ao qual pertenço, é inexorável o cultivo da escrita. Eu, particularmente, optei por um idioma estrangeiro (Língua Inglesa), o que me custou muito suor e nenhuma lágrima nos quatro anos da graduação, porque diferente da meninada de hoje, eu não "nasci sabendo", sou de uma época em que passávamos os quatro anos de ginásio estudando o verbo ToBe sem o google. E nessa realidade, padecemos eu e um bom bocado de gente.

Contudo, o apresso pela língua alvo nunca fez com que eu desmerecesse minha língua materna. E devo lhes dizer que incrivelmente a maioria dos estudantes e professores de LE cometem esse pecado. Eu não sei em que eles se pautam, mas o fato é que alimentam um excesso de vaidade pela poliglotia, muitas vezes brutalmente desenvolvida, e terminam negligenciando intencionalmente a língua pátria. De muitos casos, lembro agora de uma estudante no segundo período de Letras que certa vez disse não ter conseguido pegar um táxi porque não lembrava como faria em Português. Acreditem, existem casos assim e outros ainda bem piores.

E por falar em bem piores, fui sinalizado por uma amiga de curso a ver como alguns professores (em especial de língua inglesa) conduzem o Português nas redes sociais. É assustador! É assustador porque mesmo estando em um espaço de escrita vulnerável (a net, para ser chique), foram essas pessoas que nos catequizaram, que nos reprovaram, que até nos humilharam. E por isso me pego pensando se vale a pena arrotar tanto estrangeirismo quando não se sabe ao certo nem o português... Ainda bem que hoje dispomos de mecanismos de auto correção ou da cafona desculpa: foi erro de digitação.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Hercule Poirot e o método da inteligência despreziva


Hercule Poirot foi a única personagem da Literatura que teve o obituário na primeira página do The New York Times - o jornal que todo o mundo conhece. Não sei se vivo eu, a procura de razões, para que a Academia aceite Agatha Christie no cânone poético, mas contra fatos não há argumentos: Ela é a autora mais publicada de todos os tempos, com exceção de Shekespeare e da Bíblia. Nenhum outro escritor, não que me recorde nesse momento, escreveu 68 romances (dois deles em pseudônimos), 163 contos, 19 peças de teatro, muitos poemas e dois autobiográficos, e todos bons.

Aclamada no mundo inteiro, seus personagens têm uma espécie de vida própria que se alternam nos romances policiais. Poirot, por exemplo, aparece em quase todos como aquele excêntrico detetive que, diferente de Sherlock Holmes, despreza os métodos da polícia e desvenda os crimes através de sua magnífica inteligência. Após desvendá-los, revela-os sempre de maneira magistral: reunindo todos os suspeitos e as pistas que nos são dadas no decorrer da narrativa para mostrar nos últimos minutos, da forma mais contundente possível, que o assassino é (...).

Um método repetitivo, mas condizente com a personalidade da personagem que não é apenas de um livro só. Esta coerência me basta para que o considere Literatura. Poirot saiu de cena em um romance "Cai o pano" que Agatha Christie deixou para ser publicado após a sua morte, morrendo, também, desse modo o pequeno grande detetive que não conseguiu viver apenas em sua mente brilhante.

Cai o pano reúne Hercule Poirot, já aposentado, com seu amigo, o capitão Arthur Hastings na Mansão Styles, onde haviam se encontrado a primeira vez. A antiga mansão é agora um Hotel onde encontra-se hospedado um misterioso assassino. Um serial Killers, autor de cinco crimes sem relação aparente. Poirot então prevê o sexto assassinato e na espreita pela ocorrência descobre o autor dos crimes. Quem foi a sexta vítima? Leiam (risos).



terça-feira, 14 de julho de 2015

A mulher do vaso de alabastro


No próximo 22 de julho, a tradição cristã celebra Santa Maria Madalena. Desde pequeno, rememorando aqui os tempos de catecismo católico, internalizei o estigma da prostituta que até hoje circunda seu nome. Por aqui, virou até ditado popular chorar de arrependimento igual a uma Madalena, pois a esta se designa através das Sagradas Escrituras, a pecadora que fora perdoada por Jesus de Nazaré. Embora os Evangelhos canônicos não deixem clara sua verdadeira identidade.

Margaret Starbird em Maria Madalena e o Santo Graal – a mulher do vaso de alabastro nos oferece outra versão sobre sua história. Versão esta que inspirou Dan Brown em O Código da Vinci. Ambos não recomendados para cristãos dogmáticos. A versão se passa sobre a possibilidade, mas contundente, de que esta Maria Madalena, irmã de Lázaro de Betânia, havia se casado com Jesus de Nazaré e gerado um filho seu, ou melhor, uma filha.

A heresia disseminada em todo o ocidente fora sufocada pela ortodoxia católica que negou por toda a História essa possibilidade. A autora, seguindo a guisa de outros estudiosos precursores do assunto, rememora passagens bíblicas para mostrar onde está nas entrelinhas dos evangelistas a cultura matrimonial entre Jesus e Madalena, àquela que o ungiu com perfume.


Mas qual a verdadeira identidade desta mulher tão confundida com outras? Por que pairou sobre si o estigma da prostituição se foi casada com o rabino messiânico, autentico representante de Davi e legitimado na Terra como o cordeiro de Deus? Os evangelhos de Marcos e Lucas apontam que Madalena foi curada de sete demônios possessos, mas em passagem alguma dizem ser ela uma prostituta. Até caberia adentrar no campo antropológico da História Antiga para explicar melhor o termo prostituta, casualmente utilizado para nomear as samaritanas que ungiam os senhores nos templos, mas não sendo minha área, deixo a julgo dos entendimentos outrem, pois estudos de Starbird apontam nas Artes e na cultura antiga uma gama de evidências sobre sua verdadeira representação feminina de Maria Madalena no tempo de Jesus. É um livro não recomendado para quem lê apenas com os olhos da fé, pois as revelações comprometeram até o catolicismo da própria autora.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Carinho não tem preço

Bia Bernardi está no Egito fazendo a turnê do Prof. Alcântara Machado e levou consigo um exemplar de "Além do brilho da estrela" para ser lido nas terras onde foi concebido. Fiquei muito feliz em receber essas imagens, porque carinho não tem preço.




domingo, 12 de julho de 2015

Adiposidades literárias

Acho que nunca vou esquecer uma reunião chata, que participei um tempo atrás, em que tirei do palestrante minha atenção para depositá-la única, e exclusivamente, em um exemplar velhinho de Morte e vida Severina de João Cabral de Melo Neto. Até hoje, não sei dizer ao certo se o aceito como poema, embora aceite Os Lusíadas. Ora, falo aqui da minha predisposição tendenciosa à prosa que vergonhosamente marginaliza um pouco as rimas; mas devo confessar Seu João, que sufocando meu fôlego, ative de uma sentada só meu pomposo encantamento pelo livro. O que nem sempre me causam os cordéis. Sendo que mais tarde entraria em meu primeiro romance. Registro o fato, porque com frequência vejo muita gente acreditar que quatorze linhas divididas em dois grupos de quatro e dois de três, com o mesmo número de sílabas rimadas, pode ser um soneto tetrarca. E parece que é!

Devo dizer-lhes, entretanto, que a Literatura não dispõe de fórmulas matemáticas. Vejam o conto, por exemplo. As tentativas em defini-lo partindo de uma única forma são fadadas ao fracasso; sua natureza não dispõe de um mecanismo encaixotado como o soneto. Mecanismo este, que nem sempre é bem vindo na poesia. O próprio João Cabral, para continuar sob a égide dos grandes, disse em 1994 em entrevista a José Geraldo Couto que não se deve poetizar o poema. Isso tiraria sua beleza natural, como quem ousa perfumar uma rosa.

E essa tentativa muitas vezes forçosa de encontrar o “verso certo” acaba provocando no texto um excesso de palavras que só servem para enfeitá-lo, e o desejo do autor/poeta, ou chamado eu lírico, passa por longe porque a palavra não o atingiu com plenitude. Esse pecado não é de exclusividade dos poetas. Quantas vezes na tentativa de embelezar o romance, não encontramos descrições prolixas e desnecessárias. Lembro agora da minha primeira novela, quando em um dos capítulos descrevi a pedra do colar da cigana Walquiria “azul marinho da cor do mar”, evidentemente isso foi corrigido, mas não me retrato apenas a redundância gramatical, mas às adiposidades literárias que vivem por ai entupindo as veias artísticas, causando infartos, alguns fulminantes em escritores de um verso só.


Lembremos, portanto, todos nós que nos abastecemos da escrita para respirar, que nem sempre a sobrecarga das palavras soma. É mais fácil, entre dois adjetivos, um desprezar o outro, porque sempre haverá algo como a “rosa” que não precisa de perfume porque já é por si poética que se difere de “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. E a frente dessa lição, haverá sempre nomes como Graciliano Ramos ou Augusto dos Anjos mostrando que não descobrimos nada sobre economia linguística e estamos aqui para aprender com os melhores.