quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aniversário surpresa para Emanuela

Em Marcelino Vieira, encerrando maio :-)

♪♫ Gabriela, sempre Gabriela...♪♫


Por falar em remake, Walcyr Carrasco ta chegando com mais um na Rede Globo, baseado na obra de Jorge Amado - Gabriela Cravo e Canela (nome até de cachaça) será a nova novela das 11. Parece que o sucesso com O Astro deu certo. Olhem quem será a nova Grabriela, eu achei perfeita a escolha:


                    
                            ♪♫ eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim Gabriela...♪♫

Chaves


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Eu...

    Toda pessoa sempre é as marcas, das lições diárias de outras tantas pessoas...  (Gonzaguinha)



Uma das coisas mais difíceis da vida é se auto descrever. A necessidade de não se reconhecer, torna-se um dos mecanismos de defesa mais usado na contemporaneidade. As pessoas vivem a procura da palavra, do gesto, da ideia, do personagem do filme, do ator da novela, da música, da literatura ate os confins aonde haja o dedo do homem para se projetarem à sombra de algo que lhes pareçam revelar-te com maior efeito. Sabendo que tudo já foi dito, que nada mais somos senão reflexos do passado, falar de “eu” com ideias inéditas porque somos de alguma forma, e eu já disse isso em outro texto não com essas palavras, seres singulares é algo praticamente impossível. Dizem por ai que quem se define, se limita. Dizem também, que nós não somos, estamos. Porque ainda assim, há que se considerar a pertinência da dicotômica significância destes signos: ser – é um estado no qual você torna-se imutável, assim como algo quase inexistente, dado ao cultivo das práticas rotativas da humanidade. Estar – é um estado de espírito no qual você ou alguma coisa se encontra mediante determinadas condições. Partindo, pois deste princípio, elabora-se uma ideia simples de que jamais somos alguma coisa, mas estamos sendo. Assim como estamos vivendo, temporariamente. Acontece, meus caros, que esta ideia de “estar” desassossega nossas mentes, porque com ela vem a ideia de finitude, e ainda somos atormentados pela mística e capenga ideologia de querer ser imortal. Quando eu me rotulo, “eu” busco esquecer essa premissa para mostrar aos outros aquilo que quero que eles vejam em mim. Este “eu” sempre conjugado em primeira pessoa está hierarquicamente ligado às causas primeiras, como se involuntariamente nunca puséssemos o “tu” “nós” “vós” “eles” acima da gente, e se assim fosse, talvez ninguém sofresse complexo de inferioridade. Falar de “eu” me responsabiliza, e isso pode ser muito comprometedor. Mas não falar também o é. Falar de “eu” me egocentriza, mas não falar, também o faz. Falar de “eu” me incomoda, mas não falar, também me causa... Finalmente convencidos de que falar de si é algo muito difícil, para não dizer impossível, porque as pessoas falam mesmo, ainda que pensem que estão falando de si sem estarem, chegamos à conclusão que o que eu digo de “eu” não é o que você ouve de “eu” ainda que ouça por “eu” aquilo penso dizer sobre “eu”.

De Pessoa, Para Pessoa:

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo
E eu tomo-me sempre, mais cedo ou mais tarde
Com aquilo que simpatizo
E eu simpatizo com tudo.
São-me simpáticos os homens superiores
Porque são superiores
E são-me simpáticos os homens inferiores
Porque são superiores também.
Porque ser inferior é diferente de ser superior
E isso é uma superioridade
A certos momentos de visão
Eu simpatizo com alguns homens
Pelas suas qualidades de caráter
Com outros, eu simpatizo
Pelas faltas dessas mesmas qualidades.
E com outros ainda, eu simpatizo por simpatizar com eles.
Como eu sou rei absoluto na minha simpatia
Basta que ela exista
Para que eu tenha razão de ser.

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Um pouco de filo-sofia...


Todos os dias envelhecemos um pouco. Não adianta negar, os espelhos mostram essa realidade despida muitas vezes violentamente, e a degradação física é talvez a que menos incomode ao ser enquanto pensante. Costumo dizer, subscrito no poeta, que envelhecer é somar sua sabedoria. Assim, de modo claro, como os anos passam a pesar e rabiscar nossas expressões faciais passam também a rabiscar nossas projeções mentais. Por mais desapegados que procuremos ser da matéria, a ideia de não mais existir nos atormenta e somos acometidos por uma vaidade intransferivelmente narcisista e emergencial, cada um com a sua, de modo a possibilitar arranjos e rearranjos da qualidade de vida que buscamos ter. Essa soma de sabedoria, o acúmulo de experiências como ônus dos bônus que angariamos com o tempo, servem como passaporte ao entendimento de questões que deveriam interessar a todo mundo. Mas nem todo mundo, permite-se enxergar frente a um espelho como realmente é, as pessoas ainda necessitam usar máscaras porque temem elas mesmas, de modo que ao deparar-se em seu camarim sem meio quilo de massa corrida na face, nem ao menos se reconhecem. Talvez o homem, não de nosso tempo apenas, mas transgressor dos tempos históricos, tenha se valido dessa pseudualidade latente, inerente ao fato de nascer, porque pensar diferente, seria pensar contra o principio de que nascemos simples e ignorantes, quando é televisivo ante um caleidoscópio  a ação comportamentalista de caráter coletivo daquilo que se chama de gente. Sentindo que devo voltar a falar das experiências adquiridas pelos anos, gostaria de somatizar aos escritos a possibilidade de reflexos consciênciais advindos de algum lugar, a titulo de exemplificação, não distante observo as crianças que já nascem com uma capacidade cognitiva muitas vezes utópicas para pessoas de mais idade. A imaginar estas pequenas pessoas anos a fio, é possível visualizar não somente alguém que reflita face ao exposto sua epiderme degradada, mas uma insuportável capacidade de sabedoria nas dimensões da inteligência que lhes fora concedida. Para depois, a despeito do que somos, essa mesma pessoa, de igual aos demais habitantes desta esfera, acometer-se de medos e angustias, percebendo que para além dos anos vividos, envelhecidos e compreendidos não estamos imunes ao que diante de nós é uma única realidade, a mesma que me vem a mente na voz de Caetano Veloso: Existirmos, há que será que se destina?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Monólogo Inacabado



Cada pessoa tem uma digital, particular e intransferível, nasce com ela. Há quem diga, e por aí já ouvi, que nascem também as pessoas com uma história escrita nas estrelas e de quando em quando alguém aqui as lê direcionando os efeitos e sentidos ao personagem que nos cabe. A mim, particularmente, a palavra personagem me incomoda, senão nas minhas novelas, quando à eles translado sensações minhas e de outrem a fazer caricaturas daquilo que vivemos e negamos. 

Antigamente, e é somente força de expressão estilística, as sensitividades importavam somente ao estado de espírito a qual estivéssemos submetidos. Hoje, a ciência, no alto de seus protocolos e epifanias, a custas de explicações racionais procura diluir a clivagem direta que há inexoravelmente entre o que sentimos com o biológico, isto partindo do principio de quem nem tudo que sentimos ainda pode ser explicado, ou melhor – entendido, compreendido como escape as dores que deveras nos assolam. Considerar então, no bojo dessas questões uma aresta biológica, nos torna vulneráveis a acreditar na conjuntura não duvidosa do que sintoniza corpo e alma. Limitado a pequenez de minhas tortas ideias, penso que isso não ajuda muito, só então reaciona a dualidade existencial e sentimental a qual estamos dispostos em todos os sentidos. Não fosse assim, não fosse ligado o sentimento ao biológico, não nos afagaríamos nos braços da mãe em tenra idade nem ativaríamos os circuitos modelares que nos reveste ao simples toque da pessoa amada, entre outros infinitos exemplos que não vem ao caso, senão às ideias...

O fato, é que estamos à disposição daquilo que chamam de vida para dela desflorarmos florestas não mais virgens, fingindo como se fossem para imaginarmos que somos capazes de viver nossa própria história. Ouve-se muito dizer que é um pecado existencial transferir-se ao outro, doar-se por completo. Dizem isso, vinculados à ideia de que é possível nada restar dentro de nós quando se vive com intensidade. A mim, particularmente isso atinge, porque muito bem sou definido quando me dizem que sou os extremos de tudo e me envaidece ser assim em detrimento de um título que me honra (sem nem ao menos saber se sou): escritor. Mas viver intensamente, se doar intensamente, pode não querer dizer exatamente que você dispa-se de tudo e fique sem nada. Conheço poucos resignados que tudo dão e nada cobram. Se não me foge a lembrança seriam pessoas pacifistas que vieram ao mundo em missão, pessoas como Chico Xavier, Francisco de Assis e poucos outros... E isso tem um preço, é saber canalizar os sentimentos, sejam eles conjuntos ou não ao biológico, nenhuma necropsia revelou isso em um ser humano singular como um dos enunciados. Ao contrário, olhamos para eles e reativamos a ideia primeira desse texto, a ideia de que somos particulares, únicos e intransferíveis como uma impressão digital, mesmo que você se doe completamente, plenamente, virtuosamente, desinteressadamente... 

Convivo com pessoas um tanto preocupadas com o bem estar, com a reforma íntima e que fazem disso o ponteiro da bússola que aponta para o norte, porém, nem sempre as adversidades do caminho nos permitem seguir linearmente a esse destino apontado. Talvez, o ato de saber discernir o certo e o errado, o sul e o norte, já nos oriente de alguma maneira e sejamos portanto um dia cobrados pela demora ou pelo inconcluso percurso, dado às leviandades que cercam o caminho, assim como os afluentes de um rio em busca do mar. Aliás, voltando aqui às questões conjuntas entre as dualidades dispares elencadas, há muito tempo as condições ecológicas do planeta são responsáveis pelo percurso contrário do Rio São Francisco, não sei se todos sabem, mas ele nem mais vai bater no meio do mar como cantava Luiz Gonzaga antes de eu nascer. 

Muitas vezes, as nossas condições, ou as condições a qual estamos submetidos de uma ecologia ideológica, também nos impede de ir bater no meio do mar, de desbravar o caminho como Indiana Jones e encontrar nossos tesouros. Nunca esquecendo, portanto, que a tudo isso se deve o fato de sermos emoção e não somente razão, e o equilíbrio entre estas que nos fomenta, é algo tênue e quase imperceptível dado ao estado latente de condição existencial dos dias de hoje, dos emergenciais dias de hoje; revelando de tal maneira que não é possível ser calculista de forma a nos satisfazer plena e completamente. Talvez daqui a um tempo seja, hoje homens são substituídos por caixas eletrônicos, pessoas que morrem jajá poderão voltar aos palcos da vida através de programas de computador... Mas eu ainda me surpreendo com o mais simples, isso ainda está muito longe de mim, e no fundo eu até sou grato, ainda que através desses mecanismos eu pudesse me defender como agora sem eles não posso. Mas posso ser revelado, repito, como algo indecifrável e deveras intenso naquilo que sou.

Há um poema que gosto muito, de Fernando Pessoa em heterônomo a Ricardo Reis e ele diz exatamente assim, prestem bem atenção, é uma receita:

Para ser grande, sê inteiro. Nada teu exagera ou exclui, põe quanto és no mínimo que fazes. Assim, em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.

Sabemos que Pessoa, foi um dos, senão o, poeta mais desassossegado que já publicou na “nossa” literatura, ele tinha uma facilidade inacreditável de passar para o papel aquilo que nós só sabemos sentir. Quando eu utilizo nós, é pelo mero pretexto de querer acreditar que eu não sou o único Fernando Júnior no mundo que está nesse momento pensando o que penso e sentindo o que sinto. Me apraz acreditar que em algum lugar, se perto, se longe, territorialmente ou ideologicamente, há uma sincronia daquilo que meus sentidos todos possam se refletir nos sentidos de mais alguém. E voltando a Fernando Pessoa, podemos elucidar as condições hermenêuticas e exegeses do seu poema, certamente porque sem nenhuma pretensão ele fala de mim, antes mesmo de eu existir, se é que existo. Ele martela a condição mais primária e provinciana do ato de haver, de ser e de estar, condicionando-o a uma única possibilidade: ser tudo em cada coisa! 

Talvez um dos maiores pecados disseminados entre o homem, causador dos dissabores para com o próximo, seja a não intensidade na realização de seus atos. Eu não posso acreditar, embora esteja convencido da indiferença, que alguém goste de alguém mais ou menos, que alguém faça uma caridade mais ou menos ou que alguém viva mais ou menos. Negar os excessos é uma coisa, negar as completudes é outra! As pessoas que pensam assim, ou melhor, acham que vivem assim, vivem caminhando a esmo e quem assim caminha não chega a lugar algum, como bem disse uma escritora que conheço, vai de contra as leias naturais. E eu acredito nelas, porque existem momentos como canta Maria Bethânia, em que a corda quebra, o carro para e o riacho fica fundo. São nesses momentos em que você se apercebe diante de algum problema e vê que não é dono do mundo, que todo seu amor próprio não basta, que toda sua autonomia existencial é vã, porque dependemos sim do outro e estamos ligados em circuitos indestrutíveis. Parar pode ser lei natural, regredir não. Sabendo disso, já me alegra um pouco, embora que falsamente pelas condições de produção desta procela, porque sei que não perco o que já conquistei. Mas assim como um bocado de ideias incomodam, a ideia de estar parado também me desconforta. Eu preciso acreditar que estou caminhando, se a passos de tartaruga ou de garça, mas quero estar caminhando.

Eu vejo o tempo passando como um rio, e as águas do rio não se renovam, não se reciclam, nem sequer movem moinhos, elas podem até não se perderem, porque dizer isso seria o mesmo que desafiar o principio de Lavoisier, mas nunca mais fazem o mesmo caminho, por isso é bom ir a pé prestando atenção na estrada que talvez nunca mais possamos percorrer. É mais ou menos similar aos nossos sonhos. Não existe dor maior, nem a de parir, que a de abnegar de um sonho. Sonhos são sementes que você planta no plano das ideias e rega-as com atos, esforços e superações para realiza-los, para colher dessas sementes frutos com sabores de vitória. Mas assim como as pestes da terra, existem as pestes das ideias que de quando em quando depreciam e contaminam nossos sonhos. Alguns são adiados, estes doem menos, porque encaramos este estágio como um princípio adormecido e nos esforçamos para crer em seu despertar nos tornando com isso, pessoas capazes de viver esperando dias melhores, sonhos realizados. Já é muita coisa! Se alguém me ouve ou ler, ainda que não entenda eu agradeço, mas também lamento, porque nem eu sei o que estou dizendo quando “correm os meus dedos longos em versos tristes que invento” desse monólogo inacabado.