Todos os dias
envelhecemos um pouco. Não adianta negar, os espelhos mostram essa realidade
despida muitas vezes violentamente, e a degradação física é talvez a que menos
incomode ao ser enquanto pensante. Costumo dizer, subscrito no poeta, que
envelhecer é somar sua sabedoria. Assim, de modo claro, como os anos passam a
pesar e rabiscar nossas expressões faciais passam também a rabiscar nossas
projeções mentais. Por mais desapegados que procuremos ser da matéria, a ideia de
não mais existir nos atormenta e somos acometidos por uma vaidade
intransferivelmente narcisista e emergencial, cada um com a sua, de modo a
possibilitar arranjos e rearranjos da qualidade de vida que buscamos ter. Essa
soma de sabedoria, o acúmulo de experiências como ônus dos bônus que angariamos
com o tempo, servem como passaporte ao entendimento de questões que deveriam
interessar a todo mundo. Mas nem todo mundo, permite-se enxergar frente a um
espelho como realmente é, as pessoas ainda necessitam usar máscaras porque
temem elas mesmas, de modo que ao deparar-se em seu camarim sem meio quilo de
massa corrida na face, nem ao menos se reconhecem. Talvez o homem, não de nosso
tempo apenas, mas transgressor dos tempos históricos, tenha se valido dessa
pseudualidade latente, inerente ao fato de nascer, porque pensar diferente,
seria pensar contra o principio de que nascemos simples e ignorantes, quando é
televisivo ante um caleidoscópio a ação
comportamentalista de caráter coletivo daquilo que se chama de gente. Sentindo
que devo voltar a falar das experiências adquiridas pelos anos, gostaria de
somatizar aos escritos a possibilidade de reflexos consciênciais advindos de
algum lugar, a titulo de exemplificação, não distante observo as crianças que
já nascem com uma capacidade cognitiva muitas vezes utópicas para pessoas de
mais idade. A imaginar estas pequenas pessoas anos a fio, é possível visualizar
não somente alguém que reflita face ao exposto sua epiderme degradada, mas uma insuportável
capacidade de sabedoria nas dimensões da inteligência que lhes fora concedida.
Para depois, a despeito do que somos, essa mesma pessoa, de igual aos demais
habitantes desta esfera, acometer-se de medos e angustias, percebendo que para
além dos anos vividos, envelhecidos e compreendidos não estamos imunes ao que
diante de nós é uma única realidade, a mesma que me vem a mente na voz de
Caetano Veloso: Existirmos, há que será que se destina?
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