sexta-feira, 12 de julho de 2013

Em que ou em quem você acredita de verdade?


Passando pelo conhecido beco da lama, a caminho do centro, encontro por ocasião da feira livre, um grupo de pessoas em direção oposta que seguem caminhando. Ao aproximar-me delas, ouço com clareza uma delas, de aspecto franzino e cabelos preso, dizer: “Tá vendo como Deus é bom! Ele agora está condenado a uma vida boceta, preso numa cadeira de rodas”. Segui meu caminho sem olhar pra trás, numa inútil tentativa em decodificar por mera curiosidade quem seriam os andarilhos que ao longe se distanciavam. Mas segui, e segui a passos rasos pensando nas condições de produção afetiva que moviam aquelas pessoas, em especial a personagem cuja fala de baixo calão não me deixou indiferente. Vivemos um tempo, onde as pessoas preocupadas consigo mesmas esperam que o mundo gire em torno de si. Vivemos um tempo onde pessoas buscam em seu Deus um senso de justiça antropomorfizado por suas ideias. Ao ouvir, e gravar, o enunciado, apercebo-me do tamanho da fé de uma pessoa dessas que atribui a Deus o fato de uma pessoa encontrar-se fadada a uma vida dependente. O Cristianismo existe há mais de dois mil anos para nos mostrar que o Cordeiro de Deus veio pacificar o Deus vingativo de Moises e Abraão. Mas a ideia de um Deus vingativo ainda rege o ortodoxo Talião que aquietam as pessoas que tem sede de justiça. Tenho dificuldades, muitas, em interpretar os ensinamentos do Cristo dessa maneira. Dificuldades estas, advindas da fé raciocinada que me dá jurisdição de minhas escolhas. Se eu fiz por algo merecer, por algo receberei tal qual o semeador colhe aquilo que planta, sem necessariamente atribuir a Deus a responsabilidade de sua colheita. Contudo, não sabendo do que se tratava, associei a problemas afetivos e me pus a pensar quantos de nós ainda não vivem às margens desse pensamento, nas periferias dos ensinamentos de Jesus ou do amor ao próximo. As máximas do Evangelho, ainda hoje não compreendidas e praticadas escaninham-se na afetividade deturpada que feito cólera degenera de maneira inconsolável os homens. A este respeito, enuncia o poeta sobre a hecatombe do pseudo amor entre os homens, responsável pelos flagelos da humanidade. Quantas pessoas não cometeram suicido por causa de uma afetividade deturpada? Quantas lágrimas não são por dia derramadas por causa de uma afetividade deturpada? Esses e muitos outros questionamentos deveriam anteceder os julgamentos que por vezes fazemos atribuindo a uma força poderosamente invisível as falhas nossas, seja por desencargo de consciência ou sede de vingança, o que é um tanto diferente de justiça. Pensem nisso, só um pouquinho...

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