quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Era como se...

... eles estivessem fadados a não saírem da bolsa. Isto parecia até óbvio. O tráfego era longo e tortuoso, diariamente e por vezes, noturnamente, eles contemplavam pelo feltro sem emitir um único som, senão o ensurdecedor desejo de terem vida, as paisagens que poderiam ter sido um cenário provinciano de um amor inequívoco que desanuviavam as tensões a despeito de seus tamanhos, formas e cores. Uma vez mais, quando transportados em companhia de um nobre e pequeno companheiro, audacioso de embrulho promíscuo e sugestivo, porém de concreto, tiveram, por seu carregador, a pretensão reles e descabida de arquitetarem maquiavelicamente um instante onde se transfigurariam na velha utopia de ambos em nome daquela intelectual trilogia de sentidos não definidos o desbocamento de suas cores prediletas no batom. De fato e por direito, eles permanecem sem sentido algum, porque o significante quando não vivido, muito pouco esboça ou não esboça significado nenhum ao que pretendiam eles viverem. As pretensões, a propósito, são em eminência uma afronta, um desaforo ao que é tangível e inteligível por algum sentido que garanta-lhes a certeza de um por vir. Sempre incerto, é claro, porque se assim não fosse eles não sentiriam saudade do que não houve, dos dois minutos não vividos em instante algum e de tantos planos que voltaram na bolsa e que porquanto interrogam-se em busca de razões que emoldurem a falta de lógica de tudo isso, só que agora sem os livros. É claro que este vai ser um conto inacabado, e isto só se deve ao fato de não estarem definidos os papéis, as perucas e os narizes vermelhos de seu autor e seu protagonista. Assim... Ele não terá fim, de igual à toalha da esposa de Menelau, todas as noites bordar-se-á ao Norte o que na manhã seguinte, será desfeito pela cruel e covarde incapacidade de serem felizes no extremo Sul. E pensar que tudo começou pela indefinição de um não sei como nem qual... Às vezes faz doer mais que o falso peso dos três livros na bolsa que já nem mais os transporta, nos disse o próprio ao assinar estas palavras.

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