Vez em quando, é só vez em quando, alguém me pede que discorra algum tema sob a ótica religiosa. Eu, particularmente, não me sinto apto a falar, senão pelo prisma da Doutrina Espirita e ainda cheio de reservas porque a nossa opinião, haja vista a intelectualidade particular e intransferivel que nos sustenta moralmente, independe de catequese ou congregação.
Hoje a tarde numa roda de ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espirita) na Casa Espirita que frequento com certa assiduidade, nos propomos a debater o Aborto. Independente de religião, qualquer que seja o raciocínio cristão que a pessoa tenha jamais poderá compactuar com essa forma de homicídio deliberado. Ainda que por circunstâncias extra excepcionais, se tenha hoje uma contra proposta esdrúxula que desrespeita a própria vida em nome de outros "acasos".
Interromper o curso de uma vida que até onde se sabe é dada por Deus (é assim que creio) é um crime. Mas há pessoas que o cometem sem nenhuma culpa, sem resquicios de natureza legal, médica, moral e até mesmo espiritual, envolvendo nesse ato considerações meramente biológicas que advén de uma idéia avessa ao que entendo por vida e direito a vida.
Mas quando falamos em vida e crime, não se pode falar apenas do réu, do abortado. Não acho justo esquecer as condições de produção do crime (injustificavel) tão somente porque dentro de uma ótica cristã, quem o cometeu também é filho do mesmo Deus. É imprescindível que se leve em conta os atenuantes que que essas pessoas somatizam diante de um Deus misericordioso.
Acredito que alguém que pratique algo dessa natureza e venha a se arrepender e trabalhar fazendo o bem para quitar essa dívida com o Plano Superior e consigo mesma, receba da Espiritualidade Maior algum tipo de indulgência. Lamento não poder acreditar na Lei de Causa e Efeito como um código mosaico ou de Talião. Mesmo vendo a insistência, deveras desrespeituosa, com a qual alguns colegas espíritas a profetizam. De certo, a maioria das pessoas só crescem pela dor, mas não se pode negar que existem pessoas que evoluem pelo amor. Assim não fosse, não teria passado por aqui um certo Galileu que perdoava seus irmãos e os mandava ir e não mais pecar deixando para nós a maior Lei do mundo até hoje - o amor incondicional.
Pelos santos se beijam os altares! Ouço muito lá pela Casa Espirita que frequento se dirigirem a Doutrina Espirita como um Consolador Prometido, e não estou aqui para dizer que não é. Mas é preciso rever as formas de consolação com as quais se militam. Torno a dizer que desacredito num Deus vingativo que vai fazer penar um descrente ou um arrependido de última hora. Eu acredito num Deus que tudo é capaz de mudar, que perdoa infinitamente asism como nos orienta a fazer.
Fé sem obras não salva ninguém, é claro. Mas ameaçar pessoas com umbrais onde se pagam pecados na vara e na carne também não é caminho de redenção. Uma pessoa que busca luz e esclarecimento não pode, nem deve, padecer na escuridão e na ignorância. Essa não é a mensagem de Jesus Cristo e nem da Doutrina Espirita, isso é.... Como diria Caetano Veloso: alguma coisa fora de ordem. Devagar com o andor!
Sobre isso, nos falou o pastor Silas Malafaia nas páginas amarelas da Veja, gostei muito:
O Evangelho não é algo litúrgico, para ser dissecado em um culto de duas
horas. A grandeza do Evangelho está no fato de ser algo que pode ser
praticado. A Bíblia é o melhor manual de comportamento humano do mundo.
As igrejas evangélicas têm pregado uma mensagem de grande utilidade para
a vida das pessoas também depois do culto.
Esse é o grande segredo. De que adianta eu fazer o fiel ficar duas
horas dentro de um templo se, quando aquilo acaba, nada muda nas
relações dele com a família, com o trabalho e na vida social? Nós
pregamos uma mensagem que condiciona a prática da pessoa no seu dia a
dia. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância”.
Ele fala da vida terrena nessa passagem.
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