Com as nossas mãos, limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias... (Monólogo das Mãos)
FOTO: ACERVO PESSOAL
Da escada ouço passos de botas iguais às minhas, em cada degrau um nome anunciando chegada: meu irmão, meu nobre, minha majestade, minha realeza, meu general, meu juiz, meu capitão! Era assim que Carlos Magno adentrava em minha casa, que ele costumava dizer ser mais sua que minha. Na sala, um quadro, lembrança dos meus 25 anos com um singelo escrito “um amigo, um irmão.” Irmão por adoção. Lembro-me e lembro-me muito bem na noite de tempos idos quando estava eu, com Elba Ramalho, assistindo um especial de Nara Leão, momentos antes de um show em Natal e meu telefone vibrou. Eram duas mensagens. Numa estava escrito “eu sempre quis ter um irmão, a biologia me negou isso, a vida me ofereceu você.” Na outra, chegada minutos depois “ aceita este cargo?” e assim oficializou-se a minha irmandade com Carlos Magno, pessoa de gênio forte, personalidade rascante, aparentemente antipático e arrogante. Mas que na coxia não passava de um meninão, dependente de tudo e de todos, inclusive de mim. Na cozinha, um prato sujo de comida e um copo melado de wisk, na varanda altas e sonoras gargalhadas que o faziam perceber-se ao longe. No quarto, um cheiro insuportável de cigarro que eu já nem detesto. Na vitrola... Na vitrola alguns discos arranhados que fazem da trilha sonora de nossas vidas um requintado e sofisticado esboço de canção na voz dos melhores. Na estante: livros. Devorador! Em cada canto da casa uma lembrança, em cada escaninho da alma uma dor irreparável que só o tempo será capaz de amenizar, mas jamais explicar.
FOTO: ACERVO PESSOAL
Em pouco mais de dois anos, eu vivi situações drásticas, situações que fogem todas as lógicas possíveis e impossíveis. Duas vezes, nesse curto espaço de tempo a morte me humilhou implacavelmente. Sim! Ela nos humilha, nos limita e arrasa, mostrando que não somos nada. Já nos canta o poeta Gonzaguinha “há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo, é uma gota num tempo que nem dá um segundo, há quem fale que é um divino mistério profundo, é o sopro do criador, numa atitude repleta de amor.” Aprendi a conviver com a morte de forma serena, a minha religião me ensinou a ser assim e a esta ela devo lições que nenhum título supera. Mas não aprendi a conviver (nem quero) com a maldade que existe nos corações das pessoas. Pessoas que nem ao menos podem ser chamadas de gente, se muito, o substrato de um ser humano; porque o que dói mais nessa triste e inacreditável realidade, não é o desencarne em si do meu amigo/irmão, mas a bruta e covarde forma com que lhes foi tirada a vida. Esse crime foi de um requinte maquiavélico indescritível e irreparável. Aonde iremos parar com tanta violência? Será que em lugar nenhum estamos seguros? Voltamos a Idade Média sem registros aparentes? Tanta gente ruim no mundo, tantos bandidos impunes e nenhum desses merece um fim trágico assim, mas a vida vem mostrar que é possível e real logo bem perto da gente! É só para nos humilhar ainda mais?
Resistimos tanto, mas tanto, tanto a acreditar nessas coisas que não sei como nem porque estou escrevendo o que por hora só sei sentir. Não há no mundo palavra (dita ou escrita) que traduza este momento. Somente agradeço muito ao apoio dos amigos, de longe e de perto, que se humanizaram comigo de maneira simbólica a me fazer crer em algum sentido frente à hoje.
Com pesar, lágrimas e saudade até do que poderia ter sido.
Aquele Abraço.
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"...porque você não é só meu melhor amigo, mas o único que tenho."
Meus sentimentos, Júnior. Deus lhe conforte.
ResponderExcluirSem palavras amigo, eu que também compartilho com vc dessa dor sei o quanto foi difícil para nós aquele momento. Triste, muito triste mesmo!
ResponderExcluirFoi de repente que balançou todas as estruturas... sinto muito foi-se aquele a quem aplaudimos por muitas vezes... sentiremos muita falta... Carlos Magno
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