A nossa águia altaneira esse ano estava mais para fênix. Ressurgindo das cinzas literalmente, a minha escola de samba entrou na avenida esta madrugada para fazer bonito. A despeito de não concorrer o título este ano, não faltou samba no pé e emoção em nenhum passista, nenhuma ala, nada! Até a águia cantava, o carro abre-alas estava lindo.
Como de costume, há sempre problemas técnicos na entrada, tivemos problemas em dois carros, um deles bateu num poste e acidentou (não ferindo) uma destaque, mas nem isso impediu o grande estilo que fez o azul e branco contagiar os 700 metros da avenida, contando a relação do homem com o mar, narrando as grandes navegações e num gesto mais que merecido homenageando o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, que teve em 1935 seu primeiro título de campeã no carnaval dado pela Portela. E assim não há como duvidar que parece sim, a maravilha de aquarela que surgiu, o manto azul da padroeira do Brasil. E por falar em maravilha, mirem aí na madrinha de bateria, a atriz Sheron Menezes que fez sua estréia em grande estilo.
Se Apolinário de João Cabral de Melo Neto sempre pensara em ir caminho do mar, é porque Guimarães Rosa estava certo ao dizer que perto de muita água, tudo é feliz. Felicidade narrada no samba enredo deste ano que entoou as cores e alegorias de um verdadeiro mar que banhou a avenida e os olhos de quem contemplou a superação da perda de 2,5 mil fantasias e vestiu 4 mil componentes belissimamente (foto acima).
Aludindo Tim Maia, o enredo e tema “Rio, azul da cor do mar” nos lembra da canção que diz que é preciso ter algum motivo para sonhar. E o sonho começa com a comissão de frente vestida de criaturas do mar, formando as constelações e signos astrais. Depois entram em cena os chineses que enfrentavam o mar para venderem seus produtos, mostrando assim as rotas das grandes navegações, os deus do mar tenebroso que tanto víamos nos livros de história, as caravelas e os descobrimentos. Aqui em especial o do Rio de Janeiro, por Estácio de Sá, em ocasião da homenagem da escola.
Quem assistiu a agremiação, viu que foi um desfile completo: Desde a velha guarda aos passistas. Uma história belíssima do destemor dos grandes navegantes, como diria Amelinha “enfrentando a procela em seu furor”. Agora para não concluir esse post sem nenhuma reclamação, eu lamento a desatenção da banca, que em nenhum momento mencionou Clara Nunes, o que para mim foi um desrespeito à memória da cantora (imperdoável!).
Mas é isto, a Portela continua bela e com muito samba no pé, tenho certeza que muitos títulos virão pela frente e teremos muitas outras razões para comemorar. Só em minha escola estar na avenida este ano, já é uma vitória, com certeza. E este é o meu rancho fundo, não posso me amofinar!
FOTOS G1.com
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