, quando me dei a acreditar pelo ribombo da consciência
que a possibilidade de se desertar os sentimentos aflora em um plano de
equivalência entre nossa inteligência afetiva e as mazelas à que somos
acometidos dia-a-dia, ou chamemos de provações, olhei para dentro do oco do bambu e nem sequer pude ver
um filamento celular que fosse, antes de mais nada, um sinalizador de vida. Senti
medo. Um espasmo fracionado por um instante eterno ondulou vibrante o fio da
mais alta tensão existencial do meu ser; percebi então que estava falando de
mim e já havia iniciado aquilo que chamam de texto alheio porque não mais me representa, mas que na verdade é apenas
o eco da consciência respondendo a si própria, através de gritos mudos, silenciando o
desconforto pensante daquilo que não queremos que você entenda. Não se trata,
contudo, de subestimar vossas inteligências múltiplas ao cubo e melhores que a ostentada por mim, mas de defender-se das
verdades cortantes que negamos à nós mesmos. Por isso escrever é sempre um
risco, é o risco de desnudar-se, de dar-vos provas para serem usadas contra nós
em algum momento de nossa vida, é um risco porque ao abrir a cortina da janela
do quarto pode, à mercê do dia, entrar sol ou chuva. Assim são também nossas
sensações – inesperadas, inexplicáveis e até mesmo assustadoras. E podem fazer frio demais, ou calor demais, e esse texto
morre aqui, para que não seja eu, o próximo Pedro da história não bíblica
desses tempos perigosos em que não conhecemos nem a nós próprios.
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