Quase nunca tenho tempo de ler por prazer. De ler o que fogem as obrigações e alimenta a satisfação intelectual que buscamos. Há algum tempo me indicaram este livro e ele foi ficando adormecido na lista das leituras não obrigatórias. Pois bem, este final de semana me deitei e deleitei com J. Veiga e sua Sombra de Reis Barbudos.
A história me fez viajar por um tempo em que eu era criança e tinha mais facilidade de fazer reconto de alguns acontecimentos que a idade não nos permite entender como deveríamos, assim como Lu (Lucas, personagem/narrador) não entendeu sua própria história. O garotinho passa por uma aflição que nos faz também sentirmos aflitos com alguma coisa que nem temos o direito de saber ao certo o que é e como funciona.
Imaginem uma cidade inteira tomada por uma misteriosa Companhia que impõe regras a todos os seus habitantes. Regras esdrúxulas ousadamente comparadas com o comportamento militar na época da censura no Brasil. E imaginem também, tudo isso sendo contado por uma criança que está alheia ao processo, e somente por isso consegue viver lampejos de felicidade. Nem Kafka!
Há um capítulo, o que mais me estarreceu, chamado Cruzes Horizontais, onde são erguidos muros altíssimos nas ruas da cidade tornando-a um grande labirinto em que as pessoas são proibidas de olhar para o céu. Esta certamente é a simbologia mais forte da história da morte em vida contada pela inocência ingênua e aterrorizante de uma criança que fez J. Veiga ganhar o prêmio nacional de ficção em 1973.
Por que será que tudo permanece tal e qual? Vale a pena ler.
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