terça-feira, 30 de outubro de 2012

Silêncio...

Silêncio!
A noite anuncia chegada. É mais um daqueles dias que findam no afã de uma liquidificação de pensamentos que noturnamente invadem o bojo de minha consciência.
Silêncio!
São vozes e silêncios. Vozes do que vivi, silêncios que não ouvi. Eu vi tudo, não entendi absolutamente nada. Eu estive com todos, mas não reconheço ninguém. Sinto-me incapaz de falar comigo mesmo, porque alguma coisa que não cabe no peito, escorre pelos olhos interceptando minha comunicação como um espectro diluído. Eu sinto que escorre também pelas pontas dos meus dedos tortos os sabores dos projetos que escrevi com o sangue dos meus ideais. Eu sinto o passado mais perto, o futuro inatingível e o presente distante. Distante pela anestesia dos sentidos que me adormecem agora. Eu queria escrever um milhão de coisas. Sim, eu queria. E existem muitas palavras. Mas encontro-me atado a uma única, ela me impede de descarregar graficamente o que indescritivelmente existe. Encontro-me sufocado, entalado, e nada nem nenhum efeito de engodo me alivia. Também nada transborda. “eu só sinto no ar o momento em que o copo está cheio e que já não da mais pra engolir.”
De que me vale buscar respostas nos outros? Eles jamais me compreenderão como eu preciso e mereço. Quando se está sozinho e o relógio marca a madrugada, você passa a perceber que só pode contar com você e só pode contar a você mesmo o que você desejaria contar ao outro. Todo mundo sente uma saudade e por ela se condoí, mas a minha dói mais. Dói mais porque falo dela entre o acorde do meu silêncio gritante e a solidão de mim mesmo. Busco encontrar-me. De que adianta? Tenho medo! Até de mim! Não me conheço! Dizem que não presto! Quem me diz? Importa? “palavras são palavras e a gente nem percebe o que disse sem querer e o que deixou pra depois...”
É muito difícil ordenar em palavras o que só somos capazes de sentir. E se de fato, esta me representa linearmente, sei que sou como disse o poeta “uma charada sincopada que ninguém da roda decifra nos serões da província.” Não me resta fazer mais nada, a não ser acompanhar-me de mim, fechar os olhos e contemplar o breu. Talvez lá dentro, esteja mais claro que aqui fora.

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