Há de haver um tempo,
onde eu possa sentir a completude da existência diante de um papel e de um
lápis? Contemplando-me comigo mesmo, tenho me apercebido dos muitos e extensos
instantes em que estou só. Ainda que passe o dia cercado por gente, pois a
ideia de solidão me sufoca, sinto-me ilhado, como se diferente fosse de toda
raça humana e quando chega a noite, momento em que os agraciados pelo sono
dormem, eu encontro-me aqui, à luz dos meus próprios olhos a guiar os dedos
longos indescritivelmente afim de algo dizer. Perco-me! Perco-me porque preciso
me encontrar. Preciso me encontrar quando olho a natureza e vejo que depois da
escuridão da noite que cai, o sol renasce sempre. É uma obra mais que perfeita
agraciada pela mão divinal do criador, não?! Preciso me encontrar quando
contabilizo os anos de alfabetização humanística e percebo que as palavras me
fogem o controle dos sentimentos. Preciso me encontrar porque encontro-me
perdido, em desalinho com o que aí está. Preciso me encontrar, porque sós e
encontra o que se perde.
O intervalo (in)finito
de duração entre um instante e outro no compasso das horas faz de nossas vidas
uma catraca que gira e nos trás sempre ao cais do mesmo porto, revendo as
mesmas histórias, os mesmos personagens, os mesmos livros... A consciência de
tal façanha, não nos deveria custar espanto nem furor. Deveríamos estar
acostumados com a dinâmica das nossas existências, com a lei desigual que reage
como um bumerangue nos trazendo de volta diferentes pontos dos quais nos
lançamos. Lançar-se, é e sempre será um desafio. Assim como é um desafio
qualificar esses versos soltos com a benção do que me foge a mente e invade o
coração pela libertária voz do poeta que canta “porque a vida só se dá pra quem
se deu, pra quem chorou, pra quem amou, pra quem sofreu.”
O grande fato de toda
essa desordem, nada mais é que sempre estaremos em busca do que nos foge. Do
que nos foge até pela lembrança esquecida espontaneamente. Nunca aceitamos o
que temos porque não somos capazes de cerrar as vistas ao que os outros tem e
pela forma com as quais conseguem. Porque de igual a isto, uma balança só
estará nivelada quando nenhum peso nela depositarmos. A envergadura para um dos
lados, nada mais é que o preço (ou o peso) das nossas escolhas depositadas em
um de seus braços. Estaremos então, conscientes disso, dispostos a nada
apostar? Aprenderemos a nos bastar e nos completar como divinais criaturas
projetadas em nós mesmos? Quando paramos de pensar nisso, talvez já tenhamos
parado de viver.
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