Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
(Mt 22:14)
Partindo do princípio existente nos ensinamentos do
Mestre Jesus, lê-se Ester (16º livro da Bíblia Ed Pastoral) com olhos de
historicidade feminista; onde dentre tantas chamadas, fora a judia escolhida
para substituir a rainha Vasti no reinado de Assuero.
Conta o livro, que pela negação de Vasti apresentar-se
em público, o rei Assuero – que reinava na fortaleza de Sussa, no terceiro ano
de seu reinado ofereceu um banquete que durou cento e oitenta dias ostentando
poder e glória. Nesse tempo, a rainha Vasti também ofereceu um banquete para as
mulheres no palácio real. Convocada a apresentar-se ornada em ouro e coroa, a
bela rainha Vasti nega-se. Enfurecido, o rei, à conselho de Mamucã – um dos
sábios consultados, resolveu tirar de Vasti a coroa e dar-lhe a uma nova
rainha, assim seu poder não seria zombado entre os povos e mulheres de seu
reinado. Eis que Ester, órfã sob os cuidados de Mardoqueu, que moravam na
fortaleza, herdou a coroa e agradou ao rei. Tanto, que livrou Mardoqueu, os
judeus e quiçá a si própria de serem exterminados por não adorarem Amã acima de
Deus.
Vivemos num tempo onde o poder emergencial feminino
não pode ser driblado ante (pre) conceitos estabelecidos em sociedade
patriarcal. Recordo-me nesse instante, não lembro ao certo qual dos
vestibulares, mas um deles, onde o tema da redação foi o papel da Mulher na sociedade
contemporânea. Recordo-me também, de ter tentado traçar uma linha história
mostrando seu apogeu.
Escolhi a história de Ester, pelo simples fato de
ter acabado de ler no balanço cadenciado da rede na varanda. Mas poderia tomar como
exemplo a própria Eva, Maria de Nazaré, Cleópatra, Fafá de Belém ou até mesmo
nossa presidenta Dilma. Pois como bem decanta Pe. Zezinho “em cada mulher que a
Terra criou, um traço de Deus Maria deixou, um sonho de mãe, Maria plantou pra
o mundo encontrar a Paz.”
Mulheres, vestidas de seda ou despidas e sujas como
Ester em seu jejum, existem para desmistificar a idéia de Homem como centro
ideológico de tudo que existe. (leia-se a idéia de que por trás de um grande homem, existe uma grande mulher). É elementar (recordo-me de Soraya Vieira
dizendo) que são direitos iguais com papéis diferentes. Haja vista que em seu
papel de dona do lar a mulher cumpre obrigações que não cabem ao homem enquanto
delega outras obrigações. O que se confunde nas ideologias feministas, fazendo
com que Mulheres precisem usar terno e gravata para violentar a imagem de
direitos iguais numa sociedade extremamente dicotômica.
A grande lição de Ester, entretanto, não se limita
ao seu poder ante o rei e ao Rei (leia-se Deus), a um ela intercedeu em favor do
poder terreno de outro para livrar seu povo. Para tanto, foi vestida como
mulher, ornada e bela como Deus constituiu para o Governo. Isso mostra que
mesmo numa sociedade desigual, não é preciso agredir visualmente nenhuma
personalidade para se auto afirmar.
Tem-se banalizado hoje a necessidade de mostrar aquilo
que você é, ou que pensa ser, de uma forma extremamente deselegante. A titulo
de exemplo, trago as paradas gays que mostram homens de sunga nas ruas num trio
elétrico advogando respeito. Creio não ser este o caminho pacifista de se
conquistar um espaço. Mas sim, a banalização e vulgaridade de uma atividade que
já está no calendário cultural de nossa sociedade. como uma classe exige respeito quando ela própria não se respeita?
Segundo Marx, a sociedade igualitária é um sonho
utópico. Haverão sempre opressores e oprimidos. Assim, o que nos tornará
diferente são as lutas de classe. Mas uma luta elaborada, virtuosa e
comprometida com a causa. Certamente por isso, trago do Antigo Testamento, um,
entre milhões de exemplos onde a violação de direitos torna-se em favor de um
povo justo, um decreto de Lei.
Pensemos pois, em Ester, em Maria, em Eva, em
Bethânia, em Graça e em nós mesmos como vetores de capacitação propensos a
mudança que queremos ser e não como instrumentos ideológicos de vulgaridade e
futilidade e/ou violência naquilo que julgamos estar correto.
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