segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ester


Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. (Mt 22:14)

 
Partindo do princípio existente nos ensinamentos do Mestre Jesus, lê-se Ester (16º livro da Bíblia Ed Pastoral) com olhos de historicidade feminista; onde dentre tantas chamadas, fora a judia escolhida para substituir a rainha Vasti no reinado de Assuero.

Conta o livro, que pela negação de Vasti apresentar-se em público, o rei Assuero – que reinava na fortaleza de Sussa, no terceiro ano de seu reinado ofereceu um banquete que durou cento e oitenta dias ostentando poder e glória. Nesse tempo, a rainha Vasti também ofereceu um banquete para as mulheres no palácio real. Convocada a apresentar-se ornada em ouro e coroa, a bela rainha Vasti nega-se. Enfurecido, o rei, à conselho de Mamucã – um dos sábios consultados, resolveu tirar de Vasti a coroa e dar-lhe a uma nova rainha, assim seu poder não seria zombado entre os povos e mulheres de seu reinado. Eis que Ester, órfã sob os cuidados de Mardoqueu, que moravam na fortaleza, herdou a coroa e agradou ao rei. Tanto, que livrou Mardoqueu, os judeus e quiçá a si própria de serem exterminados por não adorarem Amã acima de Deus. 

Vivemos num tempo onde o poder emergencial feminino não pode ser driblado ante (pre) conceitos estabelecidos em sociedade patriarcal. Recordo-me nesse instante, não lembro ao certo qual dos vestibulares, mas um deles, onde o tema da redação foi o papel da Mulher na sociedade contemporânea. Recordo-me também, de ter tentado traçar uma linha história mostrando seu apogeu. 

Escolhi a história de Ester, pelo simples fato de ter acabado de ler no balanço cadenciado da rede na varanda. Mas poderia tomar como exemplo a própria Eva, Maria de Nazaré, Cleópatra, Fafá de Belém ou até mesmo nossa presidenta Dilma. Pois como bem decanta Pe. Zezinho “em cada mulher que a Terra criou, um traço de Deus Maria deixou, um sonho de mãe, Maria plantou pra o mundo encontrar a Paz.” 

Mulheres, vestidas de seda ou despidas e sujas como Ester em seu jejum, existem para desmistificar a idéia de Homem como centro ideológico de tudo que existe. (leia-se a idéia de que por trás de um grande homem, existe uma grande mulher). É elementar (recordo-me de Soraya Vieira dizendo) que são direitos iguais com papéis diferentes. Haja vista que em seu papel de dona do lar a mulher cumpre obrigações que não cabem ao homem enquanto delega outras obrigações. O que se confunde nas ideologias feministas, fazendo com que Mulheres precisem usar terno e gravata para violentar a imagem de direitos iguais numa sociedade extremamente dicotômica.

A grande lição de Ester, entretanto, não se limita ao seu poder ante o rei e ao Rei (leia-se Deus), a um ela intercedeu em favor do poder terreno de outro para livrar seu povo. Para tanto, foi vestida como mulher, ornada e bela como Deus constituiu para o Governo. Isso mostra que mesmo numa sociedade desigual, não é preciso agredir visualmente nenhuma personalidade para se auto afirmar. 

Tem-se banalizado hoje a necessidade de mostrar aquilo que você é, ou que pensa ser, de uma forma extremamente deselegante. A titulo de exemplo, trago as paradas gays que mostram homens de sunga nas ruas num trio elétrico advogando respeito. Creio não ser este o caminho pacifista de se conquistar um espaço. Mas sim, a banalização e vulgaridade de uma atividade que já está no calendário cultural de nossa sociedade. como uma classe exige respeito quando ela própria não se respeita?

Segundo Marx, a sociedade igualitária é um sonho utópico. Haverão sempre opressores e oprimidos. Assim, o que nos tornará diferente são as lutas de classe. Mas uma luta elaborada, virtuosa e comprometida com a causa. Certamente por isso, trago do Antigo Testamento, um, entre milhões de exemplos onde a violação de direitos torna-se em favor de um povo justo, um decreto de Lei. 

Pensemos pois, em Ester, em Maria, em Eva, em Bethânia, em Graça e em nós mesmos como vetores de capacitação propensos a mudança que queremos ser e não como instrumentos ideológicos de vulgaridade e futilidade e/ou violência naquilo que julgamos estar correto.

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