O meu defeito foi amar demais! Quem nunca sentiu
isso ou por esse enunciado não se defendeu, ainda que através das palavras tão
somente, parece-me que nunca viveu um grande amor, ou pelo menos um amor
exagerado como aqueles que Cazuza cantava.
Nenhum de nós está imune a uma grande paixão. Faz
parte das relações humanas e afetivas conhecer pessoas que nos são afim e
desenvolver por elas algum interesse afetivo, penso que isso é muito normal. O
grande problema disso tudo, é que assim como nossos dedos da mão são diferentes
em tamanho, proporção e atividade, mais diferente ainda são as pessoas.
Antenada nessas diferenças, sempre preocupada em
entender e socializar o comportamento humano e o desafio de (con)viver com as
múltiplas e heterogêneas faces da mente
humana, a Dra Ana Beatriz Barbosa Silva traz em seu novo trabalho um “novo”
tratado. Através de um enredo da vida real, do qual mesmo não sendo
protagonista, sentiu-se motivada a escrever sobre, ela lança CORAÇÕES
DESCONTROLADOS: Ciúmes, raiva, impulsividade – o jeito borderline de ser.
A palavra para quem não a conhece causa um certo
glamour (assim como a capa do livro) acredito que sua pronuncia, senão
francesa, me perdoe a ignorância, avizinha-se foneticamente, dando a ela ainda
mais um tom sofisticado e uma poeticidade que encontrei desde as primeiras
linhas da apresentação do livro. Sim, a Dra Ana me surpreendeu nesse prefácio.
Me causou um choque, leve, mas causou. Por um instante esqueci de suas outras
obras da série psicológica MENTES... E tive a impressão de estar lendo algo de
alguém emocionalmente envolvida num caso afetivo alheio (e estava) que certamente por
isso, desnuda-se poeticamente grafado. Desse modo, ela descreve com aquela receita de
Aluisio de Azevedo em O CORTIÇO desde o cenário à ação das personagens e graças
a esse conjunto de elementos literários é possível identificar com maestria que
este é um trabalho diferente de todos que ela já fez.
Quando eu soube que seu próximo trabalho seria sobre
essa forma exagerada, transtornada de amar eu logo pensei “finalmente ela vai
escrever sobre a minha mente." Mas
lendo a introdução do livro que ainda não devorei, senti um baque! Então já
comecei a me questionar “Eu sou assim? Não, não sou” parece-me que o jeito
borderline de ser é mais complexo do que eu imaginava e os efeitos por ele
causados vão além dos exageros que já cometi. Isso de fato me alivia, mas só
estarei devidamente tranquilo quando ler a obra toda e entender se sou ou não
um dos portadores desse transtorno (risos), porque mesmo nunca tendo apresentado
(Graças a Deus) sintomas como os da Victoria – protagonista do enredo, sinto
que ainda guardo sentimentos relacionados a fracassos amorosos que seriam melhor não guardar.
Existe uma música que certamente a Dra Ana já ouviu
e talvez até goste, uma música se não me falha a memória é de Hebert Viana, mas
que interpretada por Zizi Possi me faz nesse momento, dado ao cultivo de
escrever historinhas, sonorizar com melhor causa e efeito a temática do livro,
ou melhor, as ações de “Vic” na trama:
Muito pra mim é nada
Tudo pra mim, não basta
Eu quero cada gesto, cada palavra
Cada segundo da sua atenção
Faça isso por mim, leve a dor pra longe daqui
Estou cansada de ouvir que eu só sei amar errado
Estou cansada de me dividir
O que é certo no amor?
Quem é que vai dizer?
O que calar?
Falar e querer?
Eu quero absurdos
Quero amor sem fim
Eu quero te dizer que eu só sei amar assim.
Dra Ana, desejo que seu livro venda como água, não somente pelo sucesso que você já granjeou, mas pela pertinência de termos em mãos um manual que nos ajude a sobreviver ou pelo menos escapar, ainda que como eu escapei, uma "fera ferida" dos escaninhos do amor ou daquilo que eu julgava ser o amor...
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