É inevitável para os
escravos das redes sociais não sentirem o cataclismo das modinhas lexicais e semióticas
que volta e meia acorrentam a geração salsicha. Há quem a chame de coxinhas,
mas como essa idéia nunca ficou muito clara para mim, talvez por estar sempre
associada à concepção política, prefiro não entrar na modinha.
As modinhas das redes
sociais se expandem numa velocidade, como diria Caetano Veloso, estonteante;
ela não arrebata apenas pela idade ou pelo número de propagação, mas pela ideia
que a reprodução em massa nos torna ativos em uma geração de... Deixa pra lá...
Mas o que consola essa
repetição é a atenção voltada não somente às redes sociais. Devo opinar,
entretanto, na minha área de concentração discursiva: livros e literatura.
Voltando o tempo – bem pouco tempo, mais precisamente nos anos 1960, houve uma
geração de novos talentos que se não escrevessem à sombra de Guimarães Rosa,
Clarice Lispector ou Rubem Fonseca não acreditavam estarem fazendo Literatura,
e com isso forçavam tanto a barra que o estilo do autor – do verdadeiro autor
se perdia.
É preocupante perceber que,
ainda hoje, este é um dos grandes problemas em meio às produções
contemporâneas. Eu, por exemplo, quase não diferencio duplas sertanejas porque
elas mudam apenas de nome (com raríssimas exceções), mas as interpretações são
sempre reprodução das mesmas, o vestir, as notas musicais, etc. Sem falar na
carreira paralela de modelo que o cantor é obrigado a fazer junto aos palcos.
São essas medidas de
emergência que tornam as pessoas sem identidade, sem capacidade de criar ou
viver seu próprio estilo. Estamos posicionados no tão esperado século apenas
como antenas parabólicas – prontos para receber os sinais e transmitir,
escravizados pela linguagem rebuscada que ativa os fluxos da consciência, pela
vulgaridade, pela oscilação irremediável das ideias e, mais ainda, pela
incapacidade de querer não acompanhar o naufrágio das modinhas.